Postagens mais recentes

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Vendo racismo onde não existe

Sou levado a comentar um texto do Agora [1], jornal de São Paulo, publicado em 20/04/2011, em função dos muitos comentários que li onde a notícia foi repercutida:


Folha de S. Paulo - via Agora/SP - 20/04/2011

Embora a renda da população negra venha avançando nos últimos anos, indicadores sociais ainda mostram um abismo na situação de vida em comparação com a parcela de pessoas brancas.

É o que indica a nova versão do Relatório Anual das Desigualdades Sociais, divulgado ontem pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Negros e pardos continuam sendo as maiores vítimas da violência. Enquanto os homicídios de homens brancos vêm caindo ao longo dos últimos anos no pais, entre negros e pardos ocorre o inverso.

Segundo o estudo, o dado contribui para reduzir a expectativa de vida de negros e pardos (67,03 anos), que é inferior à da população branca (73,13 anos), conforme tabulação de dados de 2008. Na média de toda a população brasileira, a esperança de vida ao nascer é de 70,94 anos.

Em 2001, homens negros ou pardos representavam 53,5% do total de homicídios e os brancos, 38,5%. Já em 2007, do total de assassinatos registrados, 64,09% eram de negros e a proporção de brancos recuou para 29,24%.

Com isso, a probabilidade de um homem negro ou pardo morrer assassinado é mais do que o dobro se comparado a de um indivíduo definido como branco.

"Pela ótica do rendimento, houve avanços. Mas o cenário ainda está muito longe de ser positivo. Outros indicadores não estão acompanhando esse desenvolvimento", disse Marcelo Paixão, professor da UFRJ responsável pelo estudo.

Para muitas pessoas estas diferenças são atribuídas ao "racismo". 

O que não fica claro nestas opiniões é se este racismo que atribuem é o racismo que ocorreu no passado, que marginalizou os "negros" e gerou consequências, ou se acreditam que hoje em dia há um forte racismo na sociedade que impede um "negro" pobre de estudar, conseguir um bom trabalho e melhorar a qualidade de vida de sua família.

Sim, há pessoas que não gostam de negros, mas não se pode atribuir qualquer diferença ou problema (as vezes aparente) entre "brancos" e "negros" ao "racismo". Embora o racismo tenha gerado muitos problemas e consequências históricas, nem tudo é "racismo", aos menos atualmente.

Perceba como começa a reportagem:

"Embora a renda da população negra venha avançando nos últimos anos, indicadores sociais ainda mostram um abismo na situação de vida em comparação com a parcela de pessoas brancas."

Atente para isto: "Embora a renda da população negra venha avançando...". Sim, vem avançando mas ainda há um abismo!

O abismo na situação de vida da população "negra" em comparação com a parcela de pessoas "brancas" deve-se, obviamente, ao abismo da renda entre estas populações. A reportagem não revela nada além do óbvio. Também há um abismo entre "brancos" pobres e uma minoria de "brancos" ricos no país.

É óbvio que pessoas com melhores condições financeiras tenham melhor qualidade de vida, acesso a melhores alimentos, melhor cuidado com a saúde, e assim por diante. 

Também parece lógico acreditar que se esta mesma pesquisa fosse efetuada há algumas décadas atrás, esta diferença seria ainda maior. À medida que o tempo passa esta diferença tende a cair.

O fato de encontrarmos estas diferenças entre "negros" e "brancos" deve-se basicamente a fatores históricos que "todos" estão cansados de saber, e que aos poucos são eliminados em função da diminuição da pobreza no país.

Contudo, há uma diferença entre os dados "brutos" da pesquisa, e as interpretações que podemos conduzir para estes dados, e diferentes resultados dependendo da maneira como a pesquisa é conduzida. Por exemplo, comparar a população "negra" e "branca" de uma mesma faixa sócio-econômica. Em outras palavras, "negros" e "brancos" ricos, assim como "negros" e "brancos" pobres. É provável que esta diferença caia ainda mais, ou que não haja diferença, a não ser que esta seja fisiológica, no caso da expectativa de vida.

dados PCO
http://www.pco.org.br/conoticias/negros_2004/20jun_numeros.htm
(ver a interpretação furada, de dados que são muito próximos entre "negros" e "brancos")

 e ver esta:
http://www.pco.org.br/conoticias/negros_2004/16jul_cotas.htm


Segue a reportagem: 

"Negros e pardos continuam sendo as maiores vítimas da violência. Enquanto os homicídios de homens brancos vêm caindo ao longo dos últimos anos no pais, entre negros e pardos ocorre o inverso."

E como ocorrem estes homicídios? São "brancos" matando "negros" por causa da cor da pele ou "negros" matando "negros"? Nada mais natural encontrar altas taxas de homicídios entre a população mais pobre, mais exposta a um ambiente violento. E a maior parte dos negros, historicamente, são pobres. A questão é, atualmente, o "negro" está mais exposto a isto por ser "negro" ou por fatores sócio-econômicos?

A violência é maior em certos locais, mas, em quais condições? Brigas fúteis em bares e bordéis? Assassinatos em função de brigas entre facções para o controle de pontos de venda de drogas? A lista pode ser enorme.

E esta taxa de homicídios, a pesquisa foi realizada apenas em uma cidade ou uma região? Pode apenas refletir uma realidade regional ou estadual e não nacional. Isto precisa ser avaliado.

Também deve-se levar em conta que geralmente pessoas pobres, "negras" ou "brancas" - sem instrução e sem acesso a métodos contraceptivos, apresentam altas taxas de fecundidade, têm muitos filhos, o que contribui para a manutenção ou aumento da pobreza. 

Na medida em que as pessoas conseguem melhorar sua subsistência com algum programa governamental ou não, e assim seus filhos conseguem estudar e conseguir melhores empregos, naturalmente estes filhos com mais instrução e melhores condições que seus pais, provavelmente terão menos filhos e gozarão de melhores condições de vida, se administrarem adequadamente o que vierem a conquistar. 

Por sua vez, os filhos destes, crescendo e se desenvolvendo em melhores condições que seus pais e avós, provavelmente terão uma vida ainda melhor do que seus pais e avós tem/tiveram, novamente, se administrarem adequadamente o que vierem a conquistar.

E para isto acontecer, o que é necessário? Ações afirmativas, ou cotas raciais? Esta é outra discussão, clique aqui.

No entanto, há fatores que muitas vezes não são levados em conta. Veja alguns exemplos nos vídeos abaixo:
(1.a)
(1.b)

E também estes:
(2)

(3)


No caso dos vídeos (1.a) e (1.b), o que explica o jovem efetuar o roubo com outros jovens, portando arma de fogo? Necessidade de sobrevivência? O que poderia impedir o jovem de estudar, visto que sua família o sustenta e ele não trabalha? De acordo com a mãe, com sacrifício deram para ele um computador que tanto queria, entre outras coisas. Pelo visto, tem roupas, casa, comida. Por que roubar?

Alguns atribuem falta de amor familiar, talvez falta da presença da mãe, que passaria o tempo todo fora trabalhando (o mesmo com a avó), mas neste caso, o problema deixa de ser o "racismo" e passa a ser um problema familiar. Há pessoas que passam por situação similar, têm pouca presença dos pais em função da rotina do trabalho, e mesmo assim não se tornam assaltantes. Os fatores que influenciam estes comportamentos são inúmeros.

É um típico caso de problema puramente sócio-econômico e de caráter. A mãe revoltada com o ato do filho, tem 3 filhos, cada um de um pai diferente. Segundo ela, cada pai "sumiu" para não pagar pensão. Em outro vídeo, ela afirma que o último companheiro abandonou-a após saber que ela estava grávida. Podemos ter uma ideia do caráter destes "pais" que fazem filhos e abandonam a família. A mãe trabalha muito, em 5 lugares diferentes, todos os dias, o dia todo, para ganhar algo em torno de R$ 800,00 e sustentar os 3 filhos. O aluguel consome cerca de R$ 220,00. Para esta família de 4 pessoas, sobram R$ 580,00 ou R$ 145,00 por pessoa.

Como descrito anteriormente, família pobre, pessoas sem condições adequadas têm filhos em número superior a sua capacidade econômica, precisam trabalhar muito e criar os filhos. Torna-se difícil estudar ou fazer qualquer curso a fim de conseguir um emprego melhor remunerado. Já os filhos, podem crescer com dificuldades, podem vir a alterar esta realidade, mas, podem continuar a ter muitos filhos e levar uma vida igualmente difícil.

Há muitos casos semelhantes a este. E quando os jovens não mudam o comportamento, e sem necessidade, continuam com assaltos e muitas vezes são presos ou mortos em confronto com a polícia. Como entram nas estatísticas daqueles que separam a sociedade entre "negros" e "brancos", ou daqueles que querem ver "racismo" em tudo? São mais "negros" a engrossar tais estatísticas sobre, menor grau de escolaridade, mais "negros" em prisões, expectativa de vida menor. É culpa do "racismo"? Isto mostra a fragilidade e a superficialidade de tais estatísticas e estudos.

Em relação ao vídeo (2) vemos mais um exemplo de um problema puramente sócio-econômico.

Mãe estressada pela situação da família, pobreza, muito trabalho, filhos para criar, etc. Muitas vezes desconta a irritação nos filhos. Crianças agressivas em função da criação. Situação difícil! Tem 5 filhos, 3 deles com homens diferentes. Viveu com um marido agressivo. Ela quer se desfazer de 4 filhos e criar somente o bebê.

Como ficam muitas das crianças que crescem em ambientes deste tipo? E depois na vida adulta, podem repetir o comportamento dos seus pais, ou simplesmente avançar, criar e dar melhores condições para suas famílias. Ou, podem ir para o crime, e engrossar as estatísticas.

No vídeo (3) outro exemplo e a lição que a mãe dá ao filho. Ela trabalha para sustentá-lo e o mesmo assim, ao invés de seguir o exemplo da mãe prefere roubar. Não seria melhor estudar?

Onde entra o racismo? Há muito entre a situação sócio-econômica, a criação, a vontade da pessoa, e o racismo.

Nestas horas costumo lembrar da história de um ex-escravo estadunidense, Booker T. Washington (1856–1915), sua luta contra a discriminação e a luta para estudar. Lei mais aqui.

(continua)


ver:



http://exame.abril.com.br/economia/brasil/noticias/fator-previdenciario-atinge-mais-negros-e-pardos-2

http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2006/11/

http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/877676-dna-de-negros-e-pardos-do-brasil-e-60-a-80-europeu.shtml






Há alguns meses atrás uma amiga africana que viveu 6 anos no Brasil perguntou-nos: "o que é pardo? Não entendo porque usam esta palavra no Brasil, eu sou negra e pronto!"

O IBGE estuda a população brasileira segundo os seguintes critérios:

- as pessoas são caracterizadas por "Cor ou Raça" enquadrando-as dentro de um dos seguintes grupos [3]: Branca, Preta, Parda, Amarela, Indígena e os Sem declaração - aqueles que provavelmente não gostam dos rótulos anteriores; e assim, os entrevistados declaram a qual grupo "pertencem";

- "pardos" seriam os "mestiços", frutos da união de "brancos" e "pretos" ou "negros". 

Observação: no Brasil é comum o termo "negro", enquanto que em Portugal e países africanos que utilizam a Língua Portuguesa, o termo utilizado é "preto".

Mas o IBGE costuma perguntar para que a pessoa identifique a qual grupo dos acima mencionados ela se enquadra. E se o IBGE começar a não mais perguntar, mas a escolher a qual grupo estas pessoas pertencem? Os dados mudam de acordo com os critérios.

Agora vejamos os dados do PNAD 2009 [3], uma pesquisa por amostragem, onde 191.796.000 representa o número de indivíduos que compõe a população brasileira.

Declararam-se "pretos" 13.252.000 indivíduos, ou seja, 6,9% da população, e "pardos" 84.700.000 , isto é, representam 44,2% da população brasileira. Já como "brancos" o número de indivíduos seria de 92.477.000 que representa 48,2% da população.

É interessante este resultado, quer dizer que apenas 6,9% da população brasileira é composta por negros? E os "mestiços" que se dizem "negros"? Há muita confusão a respeito deste assunto pelo fato de não existirem critérios, embora isto passe desapercebido por muitas pessoas.

------ comentários:


Eliene andrade silva em 19/04/2011 às 17h51

Ou esta pesquisa foi efetuada nos parâmetros  de algumas cidades do país, ou não entendo mais nada. Uma pesquisa efetuada no ano passado, mostrada no fantástico.Revelou idosos de mais de 100 anos, no nordeste, e pasmem!  negros, pardos com torno dos 79 anos, lotam o INSS. Trabalho em uma instituição de idosos, tambémcom previdência social no nordeste, só aqui são em torno de cinco idosos, com boasaúde e  a maioria afro descendentes. Não entendi a pesquisa. E a qualidade devida?  a genética.

Adalberto Martins Fereira em 19/04 às 17h23

Isso é a loucura socialista: tem que igualar tudo o que é diferente. Problema: nada é igual na natureza. Se os ne-gros tem expectativa de vida menor que o bran-cos, não será necessariamente por "exclusão social". Eles tem, por exemplo, uma capacidade atlética muito maior que a dos bran-cos para muitas modalidades. Também, na parte cultural, sua criatividade musical e de expressão corporal é impar. Será que vão querer impor uma "igualdade" nisso também? A ra-ça ne-gra é admiravel tal como ela é.





Referências:

[1] Jornal Agora, 20/04/2011, SP:

[3] IBGE, PNAD, v.30, 2009:

[4]

[5]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui. Críticas, sugestões. Seu feedback é importante para nós.