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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Município austríaco diminui 95% das suas emissões de CO2


17/10/2011 - 12h47 - Folha de São Paulo

Güssing, na Áustria, mudou a sua história nos últimos anos. Antes desconhecida e com problemas de desemprego e imigrantes e fuga de jovens para outras localidades europeias, esse município com 4.000 habitantes passou a ser referência em energia verde na Europa.

A cidade se tornou a única da União Europeia a reduzir, desde 1995, mais de 95% de suas emissões de CO2 (dióxido de carbono).

Os benefícios não são apenas ambientais. Güssing passou a receber 30 mil turistas por ano e também criou novos campos de emprego de alta qualificação, além de atrair investidores. Detalhe: ela está na região de Burgenland, uma das mais pobres da Áustria. 

Madeira utilizada como fonte principal para geração de eletricidade 
e biocombustível em Güssing, na Áustria

Comentário de leitor da Folha:

Hélio Shinsato (257) - em 17/10 às 14h42

Nos anos 90 Güssing não conseguia pagar a eletricidade (US$8 milhões). Peter Vadasz, recém-eleito prefeito em 92 ordenou que todos os prédios públicos tivessem energia alternativa. Desde então instalaram-se 50 empresas gerando +de 1000 empregos. A energia é gerada pelo sol, pó de madeira, milho e óleo de cozinha. Hoje geram 22MWh com excedente de 8MWh que é vendido ao sistema nacional, gerando lucro de 500 mil euros, que é reinvestido em energias alternativas. Leva tempo, mas é um ótimo exemplo. 
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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Vexame Pan-Americano da Record

Reclamam tanto da Globo e fazem a mesma coisa ou pior... Cobertura da TV Record dos jogos Pan-Americanos de Guadalajara:


Por Ale Rocha | Poltrona – seg, 24 de out de 2011 10:36 BRST

Neste domingo (23/10), o Brasil bateu a Argentina na final do torneio de handebol feminino dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara (México). A partida, que classificou a seleção para os Jogos Olímpicos de Londres (Inglaterra), em 2012, não foi exibida pela Record.

No lugar, o telespectador teve a oportunidade de presenciar um vexame. O Brasil foi eliminado logo na primeira fase do torneio de futebol masculino do Pan, após perder por 3 a 1 para a Costa Rica.

Aliás, este não foi o único vexame da noite. Nem do dia. A cobertura dos Jogos Pan-Americanos pela Record é lamentável. A emissora, que tanto critica a Globo, repete os erros da concorrente. Paga cerca de US$ 10 milhões pelos direitos exclusivos de transmissão da competição, desloca dezenas de profissionais para o México, bate no peito cheia de orgulho e exibe tudo mal e parcamente.

No sábado (22), a Record preferiu levar ao ar Rodrigo Faro imitando a Wanessa Camargo enquanto atletas brasileiros asseguravam duas medalhas de ouro na vela (Matheus Dellagnello, na Sunfish; e Patrícia Freitas, na RS:X feminina) e uma de bronze (Joice Silva, na luta olímpica). A programação não foi interrompida nem para um boletim de plantão. É "O Melhor do Brasil" que se tem para oferecer.

No domingo, entre 10h e 14h, reprises de competições realizadas ao longo da semana, inclusive mais uma da final feminina do vôlei entre Brasil e Cuba. É o novo "Pica-Pau" da emissora. O "Todo Mundo Odeia o Chris" da ocasião.

Enquanto isso, no México, atletas brasileiros competiam no triatlo, basquete feminino, marcha atlética, luta olímpica e polo aquático. De novo, nada ao vivo.

Vá lá, não dá para exibir tudo. Convenhamos, nem todo esporte tem apelo de emissora aberta. Contudo, fazer diferente é obrigação de quem se apresenta como alternativa ao status quo.

A Globo é criticada por todos. Com razão. Compra os direitos de exibição de diversas competições para engavetá-los, para exibir nas coxas, para alimentar nossa lamentável cultura esportiva, que só valoriza o futebol e, quando muito, outras modalidades que têm brasileiros na ponta. Porém, o descaso da Band com a Fórmula Indy e as trapalhadas da Record com o Pan de Guadalajara mostram que a exclusividade é a melhor amiga da preguiça. Sem concorrência, não há esforço. O telespectador que se dane.

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Inquérito sobre PanAmericano mostra doações ocultas a partidos

Quanto mais reviram, mais "relações" interessantes encontram:


20/10/2011 - 09h33 - Folha de São Paulo

Entre as peças mais explosivas do inquérito da Polícia Federal que apura o socorro ao PanAmericano, está um relatório de auditoria sobre "doações ocultas a partidos políticos", informa o "Painel", editado por Renata Lo Prete, e publicado na Folha.


Os investigadores alimentaram essa pasta com e-mails em que executivos do banco falam abertamente de negócios fechados e em tratativas com lideranças dos três maiores partidos do país: PT, PMDB e PSDB.

Numa das mensagens, de 2009, Guilherme Stoliar, sobrinho e braço-direito de Silvio Santos, afirma que o tio "ficou de boca aberta" ao saber dele quais eram "os amigos" que ajudariam a concretizar a venda de parte do banco à Caixa Econômica Federal.

Os e-mails em poder da PF revelam, também, que o PanAmericano estava preparado para bater à porta do Banco do Brasil caso a transação com a Caixa, selada no final de 2009, não tivesse sido concretizada.

Em novembro de 2010, menos de um ano após a aquisição, veio à tona um rombo de R$ 2,5 bilhões --mais tarde recalculado para R$ 4,3 bilhões--nas contas do banco de Silvio Santos.

O escândalo foi um dos motivos que levaram à troca de quase todo o primeiro escalão da Caixa na passagem do governo Lula para Dilma.
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Comentários de internautas na Folha:

Afonso Beraldi (182)(10h46)

"É!! Como as coisas são interessantes e interesseiras. Quando FHC criou o PROER para socorrer bancos em dificuldades e prevenir futuros problemas no mercado financeiro, a oposição (diga-se PT) veio com tudo chamando-o de entreguista, vendilhão, capacho de banqueiros, e por aí vai. O valor na época foi de algo em torno de R$2,5bi. Turma de comunista bu-rra!! Só em dois bancos, o PT torrou mais de R$10bi."

PT treina 'patrulha virtual' para atuar em redes sociais (e sites de jornais e revistas)

É pelo visto, quanto mais o tempo passa mais spams receberemos durante as eleições... de todos os partidos, ai ai.


18/10/2011 - 09h37 - Folha de São Paulo

O PT vai montar uma "patrulha virtual" e treinar militantes para fazer propaganda e criticar a imprensa em sites de notícias e redes sociais como Twitter e Facebook.

O partido quer promover cursos e editar um "manual do tuiteiro petista", com táticas para a guerrilha na internet. A ideia é recrutar a tropa a tempo de atuar nas eleições municipais de 2012.

"Vamos espalhar núcleos de militantes virtuais por todo o país", promete o petista Adolfo Pinheiro, 36, encarregado de apresentar um plano de ação amanhã ao presidente da legenda, Rui Falcão.

Os filiados serão treinados para repetir palavras de ordem e usar as janelas de comentários de blogs e portais noticiosos para contestar notícias "negativas" contra o PT.

"Quando sai algo contra um governo petista, a mídia faz escândalo, dá página inteira no jornal. Temos que ir para cima", diz Pinheiro.

"Nossa única recomendação é não partir para a baixaria e manter o nível do debate político", afirma ele.

A criação dos chamados MAVs (núcleos de Militância em Ambientes Virtuais) foi decidida no 4º congresso do partido, em setembro.

O encontro foi marcado por ataques à imprensa e pela defesa da "regulamentação dos meios de comunicação".

O militante à frente do projeto atuou na campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista em 2010.

No mês passado, tentou articular um ato contra a revista "Veja" após a publicação de reportagem sobre o ex-ministro José Dirceu.

Os petistas dizem que a nova ferramenta também poderá ajudar seus candidatos a enfrentar boatos na rede com maior rapidez.

"No ano passado, demoramos demais a rebater calúnias contra Dilma [Rousseff] sobre aborto e luta armada", afirma Pinheiro.
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Aluno de universidade de classe média está sem freio, diz docente

Isto também vale para muitos alunos de universidades públicas:


19/10/2011 - 09h35 - DO LEITOR ARI MACEDO - OSASCO (SP) - Folha de São Paulo

Estou indignado com os jovens estudantes brasileiros. Sou professor de uma universidade privada, que atende universitários de classes C, D e E, há nove anos e vejo, que a cada semestre, uma legião deles está menos preocupada com o conhecimento.

O que importa mesmo é o diploma. Não sou tão velho assim, tenho 36 anos, mas nunca desrespeitei um professor --seja na universidade, seja no próprio colégio.

Por mais que prepare as aulas com dedicação, permanentemente preciso chamar a atenção dos alunos.

Certo dia, lecionando em uma sala com microfone, um grupinho fala mais alto do que eu. Imagine.

Conversas paralelas em tom alto, intervenções grosseiras, atendimento de celular em sala, são recorrentes no ensino superior. Vejo que a indignação não é só minha, mas de vários colegas da mesma universidade e de outras.

Quando o professor pede que o aluno saía da sala por indisciplina, são recorrentes dizeres como "eu pago e você dá aula" ou "sai você".

E se o professor sair da sala, é bem provável que os alunos recorram à ouvidoria da universidade.

Na segunda-feira, uma aluna me chamou de "cavalo" só porque chamei a sua atenção durante a aplicação da prova, pois ela tentava "colar".

Outro aluno da mesma sala me disse, ainda durante a prova: "Se você reprovar mais de 70% da classe, o problema não é mais dos alunos, é do professor".

A juventude brasileira está sem freios. Não sabem mais a distinção do certo ou errado. Isso me desanima.

Escolhi lecionar porque acreditava que poderia transmitir o conhecimento. Digo, agora com mais certeza, de que nós professores somos uma classe em extinção e sem mérito nenhum.
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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O domínio do português é um diferencial no trabalho

Como hoje tudo é "preconceito", e apareceu até o tal de "preconceito linguístico" a ser combatido no tal livro polêmico autorizado pelo MEC (aquele do "nóis pega o peixe").


Reproduzo aqui uma parte de um texto que li num blog:


... a professora Liana Aureliano , diretora da FACAMP, contou a seguinte história:

Um jardineiro da FACAMP entrou na escola pública porque queria subir na vida.

No primeiro dia de aula, corrigiu um colega ao lado, que disse uma barbaridade do tipo “nós vai”.

A professora não gostou e o advertiu.

Disse que aquela era a língua falada, que tinha tanto valor quanto a culta.

O jardineiro respondeu:

“Então eu vou embora. A língua falada eu aprendi lá no interior da Bahia. Eu vim aqui para aprender a culta”.

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Espanha: Empresa acusada de obrigar funcionárias a por cartaz no pescoço para ir ao banheiro

Quando pensamos que a coisas podem melhorar, com tanto investimento, pesquisa, informação neste mundo moderno, vemos que há quem trabalhe para piorá-la.

Brasil, nem tão ruim assim:


05/10/2011 - 05h37  - BBC Brasil - via UOL

Funcionárias de uma empresa na província de Múrcia, na Espanha, entraram na Justiça após serem obrigadas a pendurar um cartaz no pescoço, com a palavra banheiro, toda vez que precisavam ir ao lavabo.

Segundo a queixa, encaminhada nesta terça-feira ao Ministério do Trabalho, o regulamento da fábrica de embalagens El Ciruelo, da província de Múrcia (sudeste do país), estabeleceu três regras para controlar o tempo das funcionárias.

As supervisoras devem impedir consumo excessivo de líquido durante o expediente, para evitar idas frequentes ao banheiro. As mulheres também não podem demorar mais de cinco minutos no lavabo. A terceira regra estabelece o uso de um cartaz pendurado no pescoço.

Segundo a Federação Agroalimentar das centrais sindicais União Geral dos Trabalhadores e Comissões Operárias, a denúncia foi apresentada por duas trabalhadoras demitidas por se recusarem a acatar as normas de uso do banheiro.

'Semáforo'
Segundo as denunciantes, o tempo de permanência no banheiro é controlado por um aparelho que registra as impressões digitais.

As cerca de 200 funcionárias da fábrica de embalagens de frutas precisam retirar o cartaz com a supervisora toda vez que vão ao lavabo. O aviso pendurado no pescoço mostra de forma clara e visível a palavra banheiro com o desenho de um semáforo de trânsito.

Para o secretário-geral da UGT de Múrcia, Antonio Jiménez, a norma da fábrica é "uma vergonha, uma violação dos direitos dos trabalhadores e uma humilhação enorme para as trabalhadoras". A medida é restrita apenas às mulheres.

Em nota à imprensa, o sindicato diz que "não vai consentir nenhuma atuação tão vexatória e discriminatória e vai levar este caso até as últimas consequências".

As funcionárias têm meia hora de descanso não remunerado e o expediente chega a durar 12 horas diárias. As mulheres relatam ainda sofrer ameaça de descontos na folha de pagamento se demorarem mais de cinco minutos no banheiro.

A denúncia será investigada por inspetores do Ministério do Trabalho. A companhia El Ciruelo não quis fazer declarações.
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France Télécom: delírio financeiro e funcionários suicidas

Nem sempre empresas em países desenvolvidos tratam melhor seus funcionários. Atendimentos em telemarketing e coisas do tipo são ruins em diversas partes do mundo (ou talvez no mundo todo).


OperaMundi - 18/12/2009 - 13:52 | Erika Campelo | Paris

Ambiente de trabalho cruel, desrespeito profissional e metas irreais são algumas das causas dos 34 suicídios em dois anos na empresa, como explica Ivan du Roy em livro sobre o caso

Na última segunda-feira (14), na França, foi apresentado um estudo sobre as condições de trabalho na companhia telefônica France Télécom, na qual, em dois anos, 34 funcionários se suicidaram. A pesquisa, da qual participaram 80 mil empregados, aponta que há um mal-estar generalizado na empresa. A descrição é dura: "Ambiente de trabalho tenso, quase violento; condições de trabalho difíceis; fragilização da saúde psicológica e mental de alguns empregados e um grande sentimento de insatisfação".

O fenômeno, que o país não conhecia, foi analisado por Ivan du Roy no livro "Orange Stressé" ("Laranja Estressada", em tradução livre, referência à operadora de celular da empresa, Orange), lançado em setembro. O livro já vendeu mais de 15 mil exemplares e analisa o processo de privatização da empresa e a lógica comercial estafante que se dissemina cada vez mais na França.

Nesta entrevista ao Opera Mundi, ele fala do suicídio dos funcionários e de por que o trabalho é tão importante na vida dos franceses. 

Como você explica a onda de suicídio dos funcionários da France Télécom?
A França, como outros países europeus, sempre teve um modelo econômico e social equilibrado entre a economia de mercado (setor privado) e o grande setor público, considerado de interesse geral: os transportes, a energia, a telefonia, a saúde e a educação. Há uma década, o país começou um processo de privatização do setor público. Hoje se concretiza todo o processo de regulamentação contra as telecomunicações. Essa privatização é ilustrada pela invasão de lógicas financeiras em toda a economia. São essas lógicas do lucro e da rentabilidade econômica que pesam em cima do trabalho de cada funcionário, tanto do setor público quanto do privado. Os suicídios dos últimos meses mostram como o delírio financeiro exerce uma pressão sobre os trabalhadores e transforma as condições de trabalho. 

O processo de privatização da France Télécom foi diferente das outras estatais?
A France Télécom foi a primeira estatal a ser privatizada. Até os anos 90, a empresa fazia parte da grande estatal PTT (que unia correios e telefonia). A PTT tinha por missão permitir a cada cidadão francês o acesso aos correios, ao serviço bancário e às telecomunicações a um preço razoável. Em 1991, a empresa foi dividida em duas: Correios e France Télécom.

A partir desse momento, o processo de privatização da France Télécom foi progressivo. Em 1996, a empresa mudou de estatuto, virou uma sociedade anônima. Durante oito anos, o Estado vendeu suas ações e, em 2005, já detinha menos de 50% do capital. Na época, o ministro da Economia era Nicolas Sarkozy, atual presidente francês. 

Qual foi a influência da política europeia nesse processo?
Na Europa, o setor das telecomunicações foi o primeiro a ser aberto à concorrência. As grandes estatais europeias, como a Telefónica da Espanha, a Deutsche Telekom da Alemanha e a Telecom Italia também foram privatizadas. Essas empresas poderiam estar trabalhando juntas. Porém, em vez disto, elas viraram concorrentes. É uma concepção estranha da comunidade europeia. Hoje em dia, as empresas se enfrentam em uma guerra comercial permanente. Na Argentina, por exemplo, France Télécom e Telefónica são as duas grandes empresas de telefonia rivais. E o mais paradoxal ainda é o fato que as estatais que foram privatizadas por último, hoje, são as empresas líderes do mercado europeu.

Como os empregados da France Télécom viveram essa privatização? Você acredita que ela influenciou os suicídios?
No caso da France Télécom, a privatização foi traduzida pelos empregados como uma reestruturação. Só para se ter uma ideia, em 1996 a estatal tinha 165 mil funcionários; hoje, tem 100 mil. Em dez anos, 70 mil pessoas foram forçadas a partir. A maioria dos empregados eram técnicos. Hoje todos os cargos são voltados para o setor comercial e de vendas. Milhares de empregados foram obrigados a mudar de profissão. A empresa tinha funcionários em todo o país. Várias agências fecharam e os funcionários foram obrigados a mudar de cidade. Durante anos, os empregados tiveram que se adaptar a essa restruturação. Isto criou um sentimento de incertidão, de estresse. Eu encontrei pessoas que em dois anos mudaram cinco vezes de lugar de trabalho; quer dizer, de escritório, de colega, de chefe. Pior ainda, a média de idade é de 48 anos. A grande maioria dos empregados entrou na empresa quando ainda era estatal. Esses funcionários têm mais de 15 anos de serviço, uma forte ligação afetiva e um longo engajamento na empresa. Eles consideram que a profissão exercida tem um sentido social.

Passando de uma cultura de serviço público para uma cultura comercial, todo esse sentido que eles davam ao trabalho se perdeu. E essa é uma das principais causas de sofrimento, de depressão que, em casos extremos, leva ao suicídio. Um professor francês se afasta por doença uma média de 11 dias por ano. A média nacional é de 9 dias e a média de um empregado da France Télécom é de 20 dias por ano. 

No seu livro, você fala de gestão pelo estresse. Quais foram os métodos adotados pela direção da France Télécom?
Imagine um técnico de 50 anos de idade transferido para trabalhar em um call-center para vender assinaturas de celular. Ele sente que sua carreira regrediu. É humilhante. Nesses centros, cada vez que você vai ao banheiro, tem que apertar um botão para prevenir o gerente. E só tem direito a passar 10 minutos por dia no banheiro. Os funcionários são vigiados e controlados todo o tempo. Esses mesmos funcionários se encontram em contradição entre fazer um bom trabalho e terem alto índice de produtividade. Uma espécie de sofrimento ético se instala.

Porque algumas pessoas chegaram ao extremo de cometer suicídio?
Porque as instituições representativas dos empregados (comitê de empresa, sindicatos) não são mais capazes de atender à demanda. O diálogo social não existe mais. Os sindicatos estão cheios de problemas de estresse. A gestão da empresa que individualiza e isola o empregado resulta em que, quando um funcionário não consegue mais atender aos objetivos de rendimento, ele se encontra sozinho, isolado. Os suicídios são a consequência desse isolamento, e é a única maneira que alguns empregados encontraram para manifestar seu sofrimento - às vezes, em nome dos outros. Um funcionário que se suicidou no dia 1° de agosto deixou uma carta, dizendo: "Espero que meu gesto sirva de alguma coisa".
 
Como a direção da empresa reagiu?
Os diretores da empresa durante muito tempo negaram o fato. A cada novo suicídio, eles diziam que era um drama pessoal. Assim, eles não se responsabilizavam. O problema da organização do trabalho e do sofrimento que pode exercer não era questionado. A reação da diretoria foi totalmente individual, como colocar à disposição dos funcionários um psicólogo. Nenhuma política de prevenção foi feita. Didier Lombard, presidente da empresa, falou que havia uma "moda do suicídio". Essa reação mostra como a direção está desconectada da realidade que seus funcionários vivem.

E o que o governo francês está fazendo?
O Estado ainda é acionário da empresa, com mais ou menos 25% das ações. Tem representantes no conselho de administração. A pergunta é: o Estado é um acionário como outro qualquer, que deve arrecadar os lucros no final do ano e pronto? Em outubro, o governo forçou a diretoria da empresa a aceitar negociar com os sindicatos. Vamos ver como essas negociações terminarão. As negociações são lentas, teremos respostas em janeiro. De qualquer maneira, o governo demorou muito a reagir.
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