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segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um mês depois, Folha publica o “erramos” sobre Código Florestal; Miriam Leitão ainda não se retratou

Por Reinaldo Azevedo 14/02/2011 às 6:39


Tenho convicções, crenças, visão de mundo. E acho legítimo que outros jornalistas as tenham. Faço questão de deixar claro quais são as minhas. E só enrosco com o que se publica aqui e ali quando o que é uma escolha, muitas vezes de caráter ideológico, é oferecido ao leitor como se fosse ciência pura, evidência inquestionável da natureza, fato incontroverso. Aí eu protesto. Peguemos o exemplo do Código Florestal: acho o que temos ruim e defendo a mudança proposta pelo deputado Aldo Rebelo. Já expus os porquês dezenas de vezes neste blog. Há quem considere o contrário: o  texto de Aldo seria um desastre para o meio ambiente e tal. Bem, sustente-se uma posição ou outra, uma coisa é interditada a um lado e a outro: MENTIR! Não é aceitável, por exemplo, que se atribua ao relatório do deputado o que não está lá, ainda que a pessoa alegue que a “mentirinha” ajuda a proteger a natureza.

No dia 16 de janeiro, a Folha deu uma manchete de duas linhas em que podíamos ler: “Novo Código Florestal amplia risco de desastre”. Reportagem de Vanessa Correa e Evandro Spinelli garantia que o texto relatado por Aldo rebelo (PC do B) predisporia o país a tragédias como a acontecida no Rio. Manchete e reportagem eram peremptórias: a proposta de atualização do Código Florestal libera a construção em encostas.


Naquele mesmo dia, num texto publicado às 6h15 da matina (Aqui), eu afirmei que a manchete estava errada.

Neste domingo, 13, um mês depois, a Folha publica na seção “Erramos” estas linhas:
Diferentemente do publicado na reportagem “Revisão do Código Florestal pode legalizar área de risco e ampliar chance de tragédia” e na manchete “Novo Código Florestal amplia risco de desastre” (Primeira Página), o substitutivo do deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP) ao projeto que altera o Código Florestal brasileiro não libera a construção de casas em encostas.

Para a acusação que satanizava o código, nada menos do que a manchete; para a correção do erro, essas linhas tímidas. Quando contestei a manchete, escrevi então:

Eu realmente não sei como os repórteres chegaram a essa conclusão. Ou melhor: sei. Eles resolveram endossar a leitura enviesada de Marcio Ackermann, geógrafo e consultor ambiental, autor do livro “A Cidade e o Código Florestal”, que fala à reportagem. A propósito: ELE É CONSULTOR DE QUEM? A íntegra do relatório do deputado Aldo Rebelo (PC do B) está aqui. Como assegura o próprio parlamentar à Folha, seu texto trata do código em face da agricultura e da pecuária; não  procura arbitrar sobre áreas urbanas. Ele deu a devida explicação ao jornal. Ela bastava para que se concluísse: “Essa reportagem não existe”. Não adiantou nada! Ela foi publicada, os repórteres asseveraram que o texto diz o que ele não diz, e a coisa virou manchete.
Leiam vocês mesmos. Rebelo nem sequer menciona “construção de habitação em encostas”. Todas as vezes em que o texto se refere a “inclinação”, trata de atividade rural. IMPORTANTÍSSIMO: a proposta não “libera” área nenhuma, limitando-se a legalizar aquelas de cultura já consolidada.
E o mesmo vale para as parcas referências às áreas urbanas. O Inciso IV do Artigo 2º das Disposições gerais (página 245 do texto) define o que o é uma “área urbana consolidada”:

Voltei
Miriam Leitão repetiu essa ladainha na rádio CBN. Como vocês são testemunhas, passei a pedir aos repórteres da Folha e a Miriam que me indicassem o trecho da proposta de Aldo que justificasse aquela afirmação. Cobrei um dia, dois dias, três dias. E nada! A RESPOSTA NÃO VEIO PORQUE A AFIRMAÇÃO DA FOLHA E DE MIRIAM É… FALSA! Não sei quantas árvores essa mentira salvou. O que sei é que as árvores serão salvas com mais eficiência caso de diga só a verdade. No dia 25 de janeiro, eu continuava (ler aqui) a indagar:  “E o ‘erramos”, Folha? E o “errei” de Miriam? Não vinha nada! Um mês depois, o jornal corrige parte da inverdade que ajudou a divulgar — mas praticamente esconde a verdade. Nos dias seguintes àquela manchete, é bom lembrar, outros textos do jornal e da Folha Online a repetiam como se verdade fosse.

Neste domingo, a Folha trouxe novas reportagens sobre o Código Florestal. E algo espantoso se deu: ELAS DESAFIAM A PRÓPRIA CORREÇÃO FEITA PELO JORNAL, NUM CASO ESPANTOSO DE “EMBROMATION”. Continuam a atribuir à proposta de Aldo prescrições que pertencem a leis específicas de ocupação de solo urbano. No auge da maluquice, lemos:
“De acordo com a procuradora Sandra Cureau, a proposta de Aldo ainda peca por um terceiro motivo relacionado às cidades. ‘O projeto perde a oportunidade de dar um basta à ocupação em áreas de encostas. Em vez disso, acolhe a legislação que hoje permite a regularização dessas situações’, diz. Objetivamente, Aldo manteve a proteção garantida a encostas, mas especialistas questionam a vulnerabilidade delas sem a preservação do topo de morro.”

Ou seja: a proposta de Aldo seria ruim porque ela não faz aquilo que, com efeito, não lhe cabia fazer — regularizar o solo urbano, embora a reportagem reconheça que “objetivamente, Aldo manteve a proteção garantida a encostas”. Ou por outra: a reportagem admite no pé do texto, como uma coisinha irrelevante qualquer, o erro que um dia foi manchete. Erro que voltou a ser endossado neste domingo, apesar do “erramos”.

Quanto ao famoso “topo de morro”, montanhas e serras, a lei de parcelamento do solo, associada ao § 3º do Artigo 4º do substitutivo de Aldo, não permite o parcelamento do solo em “terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação”. O próprio Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) ainda não  definiu  com precisão o que é um “topo de morro”, dadas as diferentes conformações. A depender de suas características, pode ser ocupado. Os técnicos da Embrapa, por exemplo, entendem inadequado tratar essas áreas como APP (Área de Proteção Permanente). Como já indaguei aqui, alguém viu despencar as construções do Pão de Açúcar e do Corcovado ou a Igreja da Penha?  O que despenca é o jornalismo quando vira palco de uma militância política jamais admitida. Quando isso acontece, até o “erramos” de um jornal acaba desmoralizado pela repetição do “erro”, que “erro” deixa de ser para se tornar distorção deliberada da verdade.

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