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quarta-feira, 30 de março de 2011

O terrorismo em torno da inflação, fenômeno "sazonal" da grande imprensa

Periodicamente encontramos reportagens recicladas, apenas com dados atualizados, mas com mesmo conteúdo. Isto é comum em política, economia, por ocasião das páscoa, natal, etc.

No caso da economia brasileira, o monstro da inflação, ou melhor, da hiperinflação corroeu durante muitos anos os salários, e portanto, sempre limitando o poder de compra dos assalariados.

Em função da errônea ideia de que o Plano Real acabou com a inflação no Brasil, quando alguém pretende falar mal do Governo Federal, seja ele qual for (não defendo partidos políticos), basta utilizar os dados da inflação e pronto, logo aparecem leitores com a sua "própria" opinião, aquela que o meio de comunicação queria formar.

Isto porque a inflação existe, o que não mais existe é a hiperinflação. A inflação existe e sofre variações sempre, um pouco para baixo, um pouco para cima, isto é normal. Mas para quem não percebe isto, não importa, se subiu, o país está quebrado!

Também pode haver um interesse do "mercado" em divulgar projeções de aumento de inflação, a fim de dificultar a vida da equipe econômica do Governo, em função da repercussão na mídia de tais projeções, cujos dados e critérios muitas vezes não são apresentados, e quando são, não é praxe da mídia apresentar as fontes, como também não é costume os leitores exigirem e analisarem as mesmas. Assim formam-se as "opiniões".

Veja por exemplo as seguintes reportagens:


Folha de SP - 30/03/2011:
O aumento dos preços já está corroendo os ganhos salariais dos brasileiros.
Apesar dos fortes reajustes conquistados no ano passado pelos trabalhadores, o rendimento real médio ficou menor no país nos últimos meses, passando de R$ 1.563,88 em outubro para R$ 1.540,30 em fevereiro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A queda acumulada é de R$ 23,58, ou 1,5%, maior perda em dois anos, aponta relatório do Itaú. De acordo com levantamento do Dieese, 89% dos reajustes salariais do ano passado tiveram aumento acima da inflação.
    Mas, na avaliação do economista do Santander Cristiano Souza, como houve uma aceleração da inflação no fim do ano passado, "os aumentos reais podem não ter sido tão grandes assim".
     Ele observa que, durante as negociações de 2010, a inflação acumulada em 12 meses estava em cerca de 5%. A partir de outubro, a alta de preços se acentuou e levou a taxa a 5,9% em dezembro.
     "Esse 0,9 ponto percentual faz diferença: o consumidor perdeu poder de compra. Houve uma surpresa inflacionária", ressalta o economista do Santander.
     Atualmente, o IPCA --índice oficial de inflação-- está acumulado em 6,01%, e a projeção do mercado é de que baterá 7% em agosto.
Segundo Souza, existe um risco de essa perda de rendimento real alimentar mais a inflação, pois os trabalhadores tendem a pressionar por reajustes salariais altos, que recomponham a queda do poder de compra.
     O sucesso dessa demanda dependerá da escassez de mão de obra em cada setor e do otimismo do empresário com a economia. Se a percepção for de que o consumo interno permanecerá forte, ele tende a conceder o aumento e repassar a alta de custos para os preços finais.
     "Os trabalhadores vão buscar reajustes maiores, e as principais negociações acontecem no terceiro trimestre, justamente quando a inflação vai estar no pico", observa Carlos Thadeu Filho, economista sênior da Franklin Templeton.
REGIÕES
     Das seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, quatro registraram queda no rendimento real de outubro a fevereiro. As maiores perdas, de 11%, foram em Recife e Salvador.
     Além do efeito da inflação, as duas metrópoles também tiveram forte decréscimo dos salários nominais, na faixa de 8%, em igual período.
     "Essa queda é consequência do aumento da contratação de temporários no fim do ano e nas férias. Esses profissionais costumam ganhar menos", disse o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo.
     Em São Paulo, onde a contração do rendimento real começou um mês antes, a perda acumulada é de 2,14%.

Fonte:


Estadão - 17/04/2010
Consumo cresce em ritmo chinês, surpreende e pressiona juros
A demanda dos brasileiros - que inclui consumo das famílias, gastos do governo e investimentos das empresas - está crescendo em ritmo chinês. O desempenho surpreendeu a maioria dos analistas e deixou o mercado de juros nervoso. Bancos e consultorias já projetam uma alta maior da taxa básica de juros (Selic) na reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom).
No segundo semestre de 2009, a demanda doméstica já crescia a uma taxa anual de 10,5%, de acordo com levantamento do ex-diretor do Banco Central (BC) e economista-chefe do Santander Brasil, Alexandre Schwartsman. A série elaborada por ele revela que é o ritmo mais forte em 15 anos.
Segundo especialistas, tudo indica que, no primeiro trimestre de 2010, o crescimento manteve a mesma toada, na pior das hipóteses. Mas há quem diga que estaria hoje ao redor de 13% ao ano, similar ao chinês - de janeiro a março, a demanda doméstica da China cresceu 13,1%.
Por isso, nas últimas semanas, muitas instituições revisaram para até 7% a projeção de crescimento do PIB em 2010. Antes, trabalhavam com uma expansão de 5% a 5,5% da economia.
Consumo. Segundo cálculos da consultoria MB Associados, serão despejados na economia este ano R$ 244 bilhões a mais em consumo e investimento. As famílias vão consumir R$ 141 bilhões a mais, a administração pública vai elevar os gastos em R$ 34 bilhões, e as empresas vão investir R$ 68 bilhões mais. Em todo o governo Lula, o consumo das famílias cresceu cerca de R$ 500 bilhões - o que ajuda a explicação a sensação de bem-estar e a popularidade do presidente.
As projeções do mercado são que a demanda doméstica deve crescer 10% este ano. Se isso ocorrer, existe uma chance do consumo dos brasileiros terminar o ano em ritmo mais acelerado até que na própria a China.
Para a consultoria Dragonomics, com sede em Pequim, a demanda doméstica chinesa vai subir 9% em 2010. Janet Zhang, economista da instituição, diz que o investimento vai desacelerar, porque o governo está retirando os estímulos fiscais, para minimizar os riscos de formação de bolhas e pressões inflacionárias.
No Brasil, essa desaceleração ainda não está clara. "Depende de alguns fatores", diz Schwartsman. O primeiro deles é o efeito ainda incerto do aperto dos depósitos compulsórios promovido pelo BC no fim de fevereiro.
O economista lembra que as vendas de alguns produtos, como automóveis, permaneceu elevada mesmo após a retirada dos incentivos fiscais.
Outra questão que deixa o cenário confuso é o comportamento dos bancos públicos - Banco do Brasil, Caixa e BNDES - na concessão de crédito. No auge da crise, o governo abriu a torneira dessas instituições.
O sócio da MCM Consultores e também ex-diretor do BC, José Júlio Senna, afirma que qualquer recuperação acelerada, em formato de "V", de uma economia é sucedida por um período de desaceleração. "Seria normal que houvesse um desaquecimento no Brasil depois da retomada, mas isso não está acontecendo."
A combinação de confiança revigorada dos empresários (que estimula o investimento), contratações de funcionários, renda em alta e crédito abundante tem impulsionado a demanda. "O ano começou muito forte", diz Júlio Callegari, economista do JP Morgan, que, nesta semana, elevou a projeção de expansão do PIB para 7%.
No primeiro bimestre, a produção industrial cresceu 12,3% em relação a igual período do ano anterior. No varejo, a alta foi de 17,2%. Alguns indicadores, como o de vendas de carros, consumo de energia elétrica e fluxo de veículos, apontam desempenho excepcional para a indústria e o varejo em março.
No mês passado, o País gerou o recorde de 266,4 mil postos de trabalhos. Uma pesquisa da Serasa Experian mostrou que a demanda por crédito no País em março bateu recorde.
Gargalos. Os investimentos devem crescer entre 18% e 19% neste ano. Mas os analistas alertam que serão insuficientes para reduzir a pressão inflacionária de curto prazo, porque demoram para maturar. "Neste momento, investimento é mais demanda", diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
Segundo os especialistas, uma expansão acima da capacidade provoca dois problemas: inflação e/ou um estouro do déficit das contas externas. "Este ano, o País está consumindo os fundamentos da economia. O problema é 2011", diz o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero.
A similaridade do padrão de demanda do Brasil com a China acendeu uma luz amarela. "A China pode consumir 10% a mais sem dificuldade. O Brasil, não", acredita Vale. 

Fonte:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100418/not_imp539722,0.php


Sobre as projeções dos bancos privados e consultorias:


G1 - 18/04/2010
Na sexta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, criticou essas projeções que, segundo  ele, apontem “o desejo de alguns de influenciar em uma elevação dos juros maior do que o necessário”, afirmou. Segundo o ministro, a estimativa é de que a economia brasileira cresça entre 5,5% e 6% este ano.
Fonte:
http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/consumo-cresce-em-ritmo-chines-e-pressiona-juros.html

G1 - 16/04/2010
O ministro também mandou um recado para os setores que querem se antecipar a correções sobre margens de lucro e aumentar os preços. Disse que o governo agirá com aqueles que fizerem “elevações não fundamentadas”.
“Os preços estão subindo porque a economia está mais aquecida esse ano. Tivemos problemas excepcionais de chuva, a alimentação puxou [os preços]. Não podemos projetar a inflação do início do ano para o resto do ano. É equivocado fazer isso, não podemos nos precipitar. Temos que ficar mais vigilantes para que não haja contágio desses preços sobre outros preços. Por exemplo, setores que já querem se antecipar em corrigir margens mesmo antes que ocorram elevações”, disse aos jornalistas.
Fonte:
http://g1.globo.com/economia-e-negocios/noticia/2010/04/crescimento-de-7-no-pib-e-exagero-diz-mantega.html


Brizola Neto - Tijolaço - 29/03/2011
Os chantagistas dos juros ameaçam com inflação
Hoje, no Valor, há uma matéria que põe a nu como são construídas as tais “expectativas de mercado”.
Diz o repórter fernando Travaglini:
“As expectativas de inflação dispararam na última semana. A piora das projeções de economistas e analistas que respondem ao Boletim Focus, do Banco Central (BC), veio depois de importante discurso feito pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, no Senado, indicando que pode adotar novas medidas macroprudenciais, mas que os juros não devem subir além do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) de abril.”
Ou seja, o “mercado” quer juros, senão passa a prever inflação.
É claro que houve aumento de preços. E início do ano é mesmo (ainda) uma época em que eles acontecem com mais força.
É o período dos aumentos de transportes, de mensalidades escolares e em que os produtos alimentícios costumam sofrer as consequências de fenômenos naturais, como chuvas e/ou excesso de calor. Transportes e alimentação são 44% da estrutura do IPCA.
E há outro grande peso no índice. Em fevereiro, quando o índice foi de 0,8% (contra 0,78% de fev/2010), metade do índice veio do Educação, com alta de 5,81%. Como, aliás, aconteceu em 2010, 2009, etc, etc…
A inflação dos dois primeiros meses de 2011 teve exatamente o mesmo comportamento de 2010. Somou 1,64%, bem pouco acima dos 1,54% do ano anterior. Para você comparar, este índice em 2009 tinha sido bem menos, 1,03%,  e fizeram o mesmíssimo escarcéu.
O IPCA-15, uma espécie de prévia do índice oficial, divulgado semana passada, registrou queda de 0,97% para 0,60%. O resultado final de março deve ficar bem próximo do obtido ano passado: 0,52%, talvez um pouco acima pelo fato de, este ano, o carnaval ter sido em março e, com isso, o eleve um pouco.
Como os “terroristas de mercado” se repetem, peço licença aos amigos leitores para repetir também um trechinho do comentário que fiz, também há um ano, sobre essa jogada.
“Para legitimar o apetite pela remuneração do capital, que são os juros, é preciso criar o terror. O nome do terror é inflação.
Passamos o primeiro semestre ouvindo os comentaristas e analistas econômicos repetindo isso. O tal boletim Focus, do Banco Central, onde os bancos projetam suas expectativas de inflação e juros futuros, ganhou ares de Oráculo de Delfos.
Se eu quisesse paracer um “economista bacana”, poderia dizer que isso era um wishful think, que traduzido livremente seria algo como chegar a uma conclusão baseado, essencialmente, na sua própria vontade de que aquilo aconteça.
Por isso, faz tempo que eu venho escrevendo aqui (e aqui, já em janeiro [de 2010])  que não há nenhuma explosão, nem mesmo a inflacionária, que usam como pretexto para seus apetites. é certo que há inflação, mas eu acho que se contam nos dedos de uma só mão os exemplos na história onde houve crescimento econômico acompanhado de deflação ou estabilidade total nos preços).”
O jogo, como se vê, é antigo. Mas os objetivos, agora, são novos: ver se criam, com o terror, a queda da equipe econômica de Dilma. Mas se enganam redondamente. A Presidenta, que já mostrou que não tem medo de cara feia e conhece melhor do que ninguém essa turma, não vai alterar seu pulso com essa manobra.
Fonte:
http://www.tijolaco.com/os-chantagistas-dos-juros-ameacam-com-inflacao


Brizola Neto - Tijolaço - 10/08/2010
"Mercado" falava em inflação mas só queria juros
“É melhor subir logo a taxa de juros, porque se atua rapidamente para conter a inflação e é possível parar o movimento de alta logo. Como este ano é político, as pressões sobre o Banco Central aumentam – é bom lembrar que sempre existiram, mas que, em alguns momentos, ficam mais explícitas, mas ele tem decidido com autonomia a trajetória dos juros. A pressão inflacionária está muito forte. Neste começo de ano, a inflação ficou muito maior em todos os índices. Algumas razões dessa alta são sazonais, como os reajustes escolares, mas realmente deu um salto. As projeções estão acima da meta e os sinais de crescimento econômico são fortes.”
O comentário acima, de março deste ano, é de Miriam Leitão mas, justiça seja feita, era repetido por todos os “grandes” comentaristas de economia. Era o pano de fundo sobre o qual ocorreram as (vitoriosas) pressões pelo aumento da taxa de juros.  A inflação ia passar de 6% ao ano, estava fora de controle, assim diziam os “gênios do mercado”.
O humilde amigo aqui, dizia, já no final de janeiro que as tais pressões inflacionárias vinham especialmente das altas dos alimentos e dos reajustes de tarifas e preços – caso dos ônibus e das mensalidades escolares – que nada tinham a ver com a taxa de juros do BC estar alta ou baixa. ” É lobby pelos juros, nada mais.Não há pressão inflacionária alguma que seja significativa e projetável no tempo. O terrorismo econômico é uma arma, pura e simplesmente, para ganhar mais dinheiro. O medo da inflação é o que usam para isso”.
Estamos em agosto, saíram os índices de inflação de julho: 0,01% pelo IPCA, que serve para a taxa oficial de inflação. Repetiu junho, quando fora de zero. O INPC, que mede a variação dos preços para famílias com renda de um a seis salários mínimos, foi, de novo, negativo: -0,07%, ante -0,11% no mês de junho. O acumulado do ano está um nada acima do mesmo período de 2009 e, considerados os 12 meses corridos, fica até abaixo.
Mas os juros subiram. Ficou mais difícil investir e mais difícil empregar, embora nem assim os números nestes setores sejam desanimadores. Mas já não há euforia. Euforia mesmo é a dos financistas que ganharam mais 2% sobre o Tesouro – nós – sem que seja provável que nem um pedacinho disso lhes seja comido pela inflação.
Os terroristas da economia, a turma que tem saudades do FHC, sabem que o medo é sua arma.
Fonte:
http://www.tijolaco.com/mercado-falavam-em-inflacao-mas-so-queria-juros




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