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quarta-feira, 30 de março de 2011

Como a educação é tratada pelo setor privado no Brasil

Acharam o título estranho? Não deveria ser "setor público" ao invés de "setor privado"?

Bem, já estamos cansados de ouvir reclamações sobre o tratamento dado ao ensino público, embora precisamos analisar estas declarações com algum discernimento. Afinal, é uma generalização exagerada, em nossa opinião, simplesmente dizer "o ensino público no Brasil é ruim, péssimo". 

Isto porque o ensino público Federal é em geral de boa qualidade (médio e universitário), além dos professores federais, em geral, receberem melhores salários do que aqueles pagos por governos estaduais.

Na maioria das vezes o problema da educação no Brasil é por conta de governos estaduais e municipais, em função do pouco comprometimento de sucessivos governos com este assunto, desvios de verbas, etc. O problema não é falta de dinheiro, ele existe, mas é mal empregado e/ou desviado.

E o que isto tudo tem a ver com o setor privado? Por setor privado, neste texto, não nos referimos às escolas privadas, dada sua natureza, mas às demais empresas privadas como também pessoas físicas que podem dar sua contribuição.

Muitos certamente irão protestar: "mas isso é dever do Estado, não do setor privado".

Um exemplo, nos EUA há milionários que doam dinheiro para instituições de ensino e institutos de pesquisa, concedem bolsas de estudo/pesquisa ou simplesmente abrem universidades. Muitas empresas atuam em conjunto com universidades, sejam públicas ou privadas, porque todos entendem que isto é importante para o país, além dos benefícios para os empresários.

E como é no Brasil? É fácil perceber que o mencionado no parágrafo anterior praticamente não existe no Brasil, com excessão de pouquíssimas empresas que trabalham em conjunto com algumas universidades.

Para melhor exemplificar a situação no Brasil, cito um texto encontrado no blog "Tijolaço" do Brizola Neto, (que por herança familiar, não deixa de dar suas alfinetadas na Globo, embora as vezes com alguma razão):
"Mais cedo postei o artigo (insuspeito, de um dirigente de banco multinacional) falando do peso da educação no desenvolvimento chinês.
Agora, antes de almoçar, leio uma matéria que seria irônica, se não fosse trágica.
E, também, no insuspeitíssimo O Globo.
É que o blog do Big Brother, certamente por distração de seus mentores, publica a seguinte informação:
“Na quarta-feira, 30 de março, existirão 169 ex-integrantes do “Big Brother Brasil”. Um número que chama atenção ao ser posto, lado a lado, ao de profissionais com carteira assinada em algumas atividades regulamentadas pelo Ministério do Trabalho: hoje, no Brasil, existem 18 geoquímicos, 34 oceanógrafos, 77 médicos homeopatas e 147 arqueólogos, entre outros ofícios. No entanto, na mesma quarta, alguém estará R$ 1,5 milhão mais rico (ou menos pobre, dependendo do ponto de vista), e não será um desses trabalhadores.”
Pois é. Mas o que o “brother” vai ganhar é nada, perto do que a Globo fatura. Ano passado foram R$ 300 milhões; em 2011, estima-se, R$ 400 milhões. E fatura porque as grandes empresas pagam para patrocinar.
Não tenho notícia de uma grande empresa patrocinando uma Universidade. Não tenho notícia de uma multinacional investindo na formação de oceanógrafos, ou de arqueólogos, ou de homeopatas, ou geoquímicos.
Nem vejo os nossos gloriosos colunistas dizendo que as empresas devem ter uma função social, como prevê, desde 1946, a nossa Constituição.
Nada contra as moças e rapazes que estão ali tentando um lugar ao sol que, em nosso país, durante décadas, nos acostumamos a não merecer pelo estudo, pelo trabalho, pela austeridade. “Faz parte”, como dizia o bordão de um ex-”brother”.
Mas tudo contra o império do interesse comercial moldando, a seu bel-prazer, um comportamento social marcado pela competição a qualquer preço, pelo exibicionismo, pelo vazio, para embolsar milhões.
Sempre é bom repetir o que diz o artigo 221 de nossa Constituição:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
É por isso que quando a Globo fala em princípios, em educação, em trabalho honesto, em respeito ao ser humano, o cheiro da hipocrisia se espalha no ar."


É interessante a comparação, como também é interessante notar o endereço do blog do BBB11:

http://oglobo.globo.com/cultura/bigblog/posts/2011/03/27/com-fim-do-bbb-11-numero-de-ex-participantes-chega-169-371111.asp

está alocado, e caracterizado, dentro do diretório "cultura"!

Nota-se neste texto e em outros exemplos, como o setor privado trata a educação no país, virando as costas para ela.

Imagine se a Vale investisse no país tanto quanto o faz a Petrobras - suas parcerias com universidades,  pesquisas em energias alternativas (além do petróleo), desenvolvimento de tecnologia, recursos humanos, etc. A Vale precisa lucrar, afinal, como pagar 1 milhão por mês para cada diretor?

Guilherme Barros - iG (30/03/2011)
Com a saída da presidência da Vale, Roger Agnelli terá uma perda substancial em seus rendimentos. Além de dois aviões Citation, um deles comprado recentemente, e de um helicóptero, o executivo deixará de receber R$ 16 milhões por ano, valor que compreende salários e bônus pagos pela mineradora.
Os outros oito principais executivos que compõem a diretoria da Vale ganham cerca de R$ 78 milhões por ano.  
Brizola Neto - Tijolaço (29/03/2011)
http://www.youtube.com/watch?v=9XDEJ9S4unY
Posto aí em cima o vídeo da fala que proferi, agora há pouco no plenário da Câmara, tornando pública a vergonha que, a partir da informação de Paulo Henrique Amorim, tive a sorte de encontrar documentada: a Vale paga salários de R$ 1 milhão por mês – isso mesmo, R$ 1 milhão – a seus executivos e, como isso é uma média, certamente o sr. Roger Agnelli embola bem mais que isso, para adotar uma política de sangria desatada de exportação de minérios que pertencem ao povo, não investir em siderurgia e encomendar lá na China os navios que vão transportar, mundo afora, nosso ferro.
Onde está a mídia moralista, que faz escândalos – e alguns justos – quando uma empresa estatal tem salários mais elevados e não vê estes, 30, 40, 50, cem vezes maiores?
Quem vai escrever colunas sobre os marajás de Carajás? 
Ver também aqui.

E dos muitos milionários que há no país, quantos doam generosas quantias para universidades e centros de pesquisa? Quantos abrem universidades e concedem bolsas para estudantes e pesquisadores?

Isto é sub-desenvolvimento. O país é dominado por uma mentalidade terceiro-mundista, problema também presente entre aqueles com enorme poder financeiro, e que supostamente deveriam ser os mais instruídos do país.

Ainda estamos longe do "desenvolvimento"...

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