Postagens mais recentes

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Embratec - a Embrapa da tecnologia, mais um passo para o avanço tecnológico brasileiro

Empresa Brasileira de Ciência e Tecnologia Industrial

Alaor Chaves - Departamento de Fisica - UFMG/ICEx
29/04/2011 - Boletim SBF [011/2011]

O governo Federal deverá criar a Empresa Brasileira de Ciência e Tecnologia Industrial – Embratec, uma análoga da Embrapa voltada para a tecnologia industrial. O Ministro Aloizio Mercadante anunciou essa intenção recentemente na visita da presidente Dilma Rousseff à China, na feira de tecnologia de Hannover e no Congresso Nacional. A criação da Embratec foi proposta no livro Ciência para um Brasil Competitivo – o papel da Física (Capes 2007), fruto de um estudo encomendado pela Capes a um grupo de físicos ligados à Sociedade Brasileira de Física. Foi enfaticamente apoiada pela SBPC, pela Academia Brasileira de Ciências e por eminentes empresários industriais.



A idéia obviamente se inspira na história emblemática da Embrapa – criada em 1973. Até a criação da Embrapa, o Brasil insistia em importar e adaptar práticas agrícolas impróprias para nosso clima e nosso solo, e a produção permanecia estagnada, apesar de generosos subsídios governamentais. Hoje nossa técnica agropecuária é a que avança mais rapidamente em todo o mundo. Os resultados do trabalho da Embrapa não tardaram em aparecer. Já em 1978, por meio do programa Polocentro, havíamos desenvolvido técnicas capazes de transformar o cerrado (que na poética de Guimarães Rosa, “é só pra fazer lonjura”) em terras altamente produtivas, o que rendeu o World Food Prize a Edson Lobato (agrônomo da Embrapa) e Alysson Paulinelli, Ministro da Agricultura promotor do Polocentro. Hoje, o cerrado brasileiro é a maior fronteira agrícola do mundo.

A Embratec pode ter na indústria brasileira um efeito similar ao da Embrapa, embora a diversidade das técnicas industriais seja maior e o seu desenvolvimento seja mais desafiador. Sua missão presumível será identificar e resolver os principais gargalos tecnológicos defrontados pela indústria brasileira e franquear as técnicas desenvolvidas para uso dentro do país. Há um complicador político: distintamente das técnicas agrícolas, muitas técnicas industriais são de interesse de um número reduzido de empresas. Para evitar o favorecimento de setores industriais restritos que não sejam estratégicos para o País, o projeto de criação da Embratec deve incluir arranjos capazes de lidar com tais situações. O uso de recursos dos Fundos Setoriais para desenvolvimento de técnicas para os respectivos setores e a realização de pesquisa feita sob encomenda, paga pelo menos em parte, são exemplos de arranjos que ocorrem prontamente.

O Brasil ainda não conta com a massa de cientistas e engenheiros necessários para que desenvolvamos tecnologias diversificadas e de fronteira. Para superar esse embaraço, mais uma vez o exemplo da Embrapa é útil e válido. Nos seus primeiros anos, a Embrapa concedeu 1300 bolsas para estudos pós-graduados no exterior. O mesmo deveria ser feito pela Embratec. Um grande número de cientistas e principalmente de engenheiros precisa ser enviado ao exterior para formação pós-graduada em áreas eleitas como prioritárias.

Nesse momento, é muito importante que a comunidade de cientistas e engenheiros pesquisadores brasileiros se movimente para apoiar politicamente a iniciativa do governo e também se disponibilize para colaborar no trabalho desafiador de projetar a Embratec.
---x---

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE UMA POSSÍVEL EMBRATEC

Constantino Tsallis - CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas)/RJ
02/05/2011 - Boletim SBF [012/2011]

Em 1924, três décadas antes da expedição vitoriosa de Edmund Hillary e Tenzing Norgay, perguntaram ao notável escalador britânico George Mallory por quê queria subir ao topo do Everest. Refletindo algo que se encontra no âmago da natureza humana, Mallory deu a famosa resposta: Porque está ali.
O Brasil tem hoje vários Everest para conquistar. O promissor pré-sal, a colossal diversidade ecológica e ambiental da Amazônia, do Pantanal e do resto do Brasil, uma imensa necessidade de educação e de inclusão socio-econômica do povo brasileiro, um invejável mercado interno. Entre vários outros desafios gigantescos. Os físicos e demais cientistas podem ajudar. E há no Brasil milhares de cientistas que, embora em número ainda insuficiente, estão ali! Alguns com dificuldades de achar um trabalho condizente com os longos anos de sua preparação, num mercado nacional por vezes quase exclusivamente acadêmico.

Alguns, teóricos e experimentais, querendo dar, e em muitos casos já sabendo dar, sua “pirueta” tecnológica, industrial, comercial. É possível também que tenhamos no Brasil não poucos empresários que, se forem colocados em contextos favoráveis, estariam dispostos a engajar-se em desenvolvimentos originais, muitos dos quais acarretariam maiores lucros para suas empresas e maiores benefícios para a sociedade em geral.

É fato que o ser humano gosta de se aventurar fora de seu habitat natural. O cientista puro tem ocasionalmente vontade de fazer uma investida prática, tecnológica – Karl Gauss fez um protótipo de telégrafo elétrico --. E o tecnólogo gosta, de vez em quando, de fazer uma investida teórica, abstrata – Thomas Edison tentou descobrir um novo tipo de força no éter --. É decididamente surpreendente como tantos indivíduos manifestam talentos insuspeitados em áreas diferentes da sua costumeira.

Uns 4-5 anos atrás, a pedido da CAPES, alguns colegas físicos ligados à SBF fizeram uma reflexão quantitativa e qualitativa e produziram um documento denominado Ciência para um Brasil Competitivo: o papel da Física (Julho de 2007). Este livro foi organizado por Alaor Chaves, e foi recentemente usado como referência em seu artigo intitulado Empresa Brasileira de Ciência e Tecnologia Industrial-Embratec, no Boletim da SBF de 29/04/2011.

Não é o caso de reproduzir aqui os dados, concretos e disponíveis, sobre os quais a proposta de criação de uma Embratec é baseada, mas a possibilidade de sua implementação rápida certamente merece atenção, análise e discussão. Trata-se de idéia excelente que poderá contribuir significativamente para o desenvolvimento científico-tecnológico-industrial nacional.

1 de Maio de 2011.

Constantino Tsallis

Nota do editor [do Boletem da SBF]:
O texto a que se refere o Professor Constantino Tsallis pode ser encontrado na página da SBF em Publicações/Livros e Estudos

Os autores deste texto são:
Adalberto Fazzio - USP/SP
Alaor Chaves - UFMG (Coordenador da Comissão)
Celso Pinto de Melo - UFPE
Rita Maria de Almeida - UFRGS
Roberto Mendonça Faria - USP/SC
Ronald Cintra Shellard - PUC-Rio e CBPF

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário aqui. Críticas, sugestões. Seu feedback é importante para nós.