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domingo, 15 de maio de 2011

Resquícios de racismo e maus tratos em função da condição sócio-econômica de negros, brancos, etc

Para mim o abaixo relatado na revista Carta Capital não indica um "Brasil racista", não temos aqui o que ocorreu nos EUA. Mas, tão e simplesmente, em minha opinião, um comportamento isolado por parte de alguns indivíduos, que as vezes manifesta-se contra negros, outras vezes contra pobres em geral, ("negros", "brancos", "índios", etc) ou contra qualquer pessoa que "der na telha".


Há pessoas que não gostam de pessoas de outro bairro da mesma cidade. Outros, não gostam de pessoas de uma cidade vizinha ou de outro Estado. Enfim. Não acredito ser adequado tomar este tipo de situação para declarar que vivemos num país "racista". Muito disto é puramente sócio-econômico. O que sobra, pouquíssimo em minha opinião, é um "racismo" que não resiste a qualquer confronto com a realidade,  como qualquer "racismo". Ainda vemos uns resquícios no Brasil.

O interessante é que muitas pessoas, ao lerem a reportagem abaixo, pensam logo em "racismo", no Brasil "racista" mas, esquecem-se do que fez a maioria das pessoas que passaram a conviver com o Helder: ajudaram-no nas mais diversas circunstâncias, até mesmo por ocasião do frio do sul, o qual não estava acostumado, dando roupas para ele. Isto não pode ser invisibilizado pela ação de 2 ou 3 racistas.

Parabéns ao Helder, que é um lutador. Chegou na universidade sem cotas, como muitos "negros" e "brancos" pobres que eu conheço.


“Eu me senti um exilado dentro do meu próprio País”

James Cimino 10 de maio de 2011 às 16:32h - Carta Capital

“Eu me senti um exilado dentro do meu próprio País. Ficava no quarto pensando que eles iam invadir a qualquer momento.” O relato do estudante baiano Helder Santos Souza, 25 anos, poderia ser menos assustador se o “eles” da frase acima não fizesse alusão a policiais, mais especificamente aos integrantes da BM (Brigada Militar), equivalente gaúcho da PM.

Aluno do curso de licenciatura em História da Unipampa (Univeridade Federal do Pampa), Helder morava na cidade de Jaguarão (RS), fronteiriça ao Uruguai, fazia pouco mais de um ano. Originário de Feira de Santana (BA), foi parar no extremo sul do país por meio do Enem e do vestibular unificado. Sentia-se assimilado pela comunidade. Fez amigos, arrumou uma espécie de família adotiva e, no primeiro inverno, despreparado para o frio, recebeu doação de agasalhos dos moradores.

Estudante de escola pública, primogênito de uma lavadeira que criou sozinha cinco filhos, ex-vendedor de picolé, ex-assessor de deputado, Helder cresceu em casa sem banheiro e comia, segundo seu relato, bolinho de feijão com farinha e um pedaço de carne no meio “pra não dizer que comia sem mistura”. Na casa da família não há fotos de infância. Naquela época, as câmeras digitais não eram populares. Mesmo hoje, a família ainda não conseguiu comprar uma. Ainda assim, o rapaz se orgulha de ser o primeiro da família de sua mãe a entrar na faculdade. “Não sou cotista. Só com a minha nota consegui entrar na Unipampa, ela foi o suficiente para em passar em 17º lugar de um total de 50 vagas.”

O orgulho de Helder, porém, foi ferido no dia 6 de fevereiro. Na saída de um concurso para a escolha do Rei Momo e da Rainha do carnaval na cidade de Jaguarão, fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai, Helder e mais quatro amigos, alguns deles, segundo a Brigada Militar, com passagem pela polícia, foram abordados por nove brigadistas (soldados) na saída de um baile de carnaval. Durante a revista, relata Helder, houve abuso de autoridade contra ele e seus colegas. “O Josemar começou a ser agredido de cassetete. Quando eu virei para olhar, um dos policiais falou: ‘Olha pra parede negão!’.”

Helder questionou o vocativo. Apanhou, foi algemado e detido sob acusação de desacato a autoridade. Poucas horas depois, após fazer exame de corpo de delito, o rapaz foi solto. Novamente, não se calou. Procurou a corregedoria da BM, o Ministério Público e contou sua história numa rádio local, citando os nomes de todos os brigadistas envolvidos. O assunto ganhou proporções. Vinte dias depois, Helder receberia uma carta anônima, datilografada, parabenizando-o pela coragem de enfrentar a Brigada. No entanto, o texto trazia uma ressalva: que tomasse muito cuidado durante o Carnaval, pois o Comandante da BM em Jaguarão teria dado ordem expressa de “moer o baiano e os amiguinhos” dele.

A carta relata um suposto plano para agredir o estudante, em represália à denúncia, de modo a não deixar marcas, com uso de choques inclusive. “Achei que era para me intimidar. Mas levei o assunto à direção do campus, que pediu detalhes do caso à corregedoria. Aí chegou a segunda carta.” Nela, o vocativo é “baiano nego sujo” e as ameaças são diretas. Caso Helder aparecesse na corregedoria e contasse a verdade, iria apanhar. “Nego sujo, volta pra Bahia”, dizia a carta. A própria diretora do campus de Jaguarão, Maria de Fátima Ribeiro, também recebeu uma carta, esta com ameaças de morte por ter pedido esclarecimentos sobre o caso, com acusações de que a universidade só trazia lixo para a cidade.

A esta altura, o caso já tinha ido parar na Secretaria de Justiça e do Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul, que, em conjunto com a Unipampa e com o advogado do rapaz, promoveu a retirada de Helder da cidade. Levado para Porto Alegre, foi acolhido no Quilombo da Família Silva, o primeiro quilombo urbano do Brasil, até que pudesse ser levado de volta a Feira de Santana. “Amava minha cidade de Jaguarão. Minha situação era estável. Trabalhava na secretaria de Direitos Humanos da cidade. Ganhava 800 reais. Tive que fugir sem nem receber meu salário.”

Não é a primeira vez
O acesso de Helder à universidade pública foi possível por caminhos tortuosos. O cursinho que frequentou, foi pago com uma indenização de 6 mil reais recebida em 2009 de um supermercado na Bahia – Helder estava na fila conversando com amigos, foi confundido com um pedinte e expulso do local. Seu desempenho na Unipampa era regular, segundo a reitora Maria Beatriz Luce. Ela frisa que 50% das vagas da Unipampa são destinadas a ações afirmativas e que o desenvolvimento de Helder “progrediu do primeiro para o segundo ano”.

Para não perder o semestre, o estudante irá se beneficiar do programa de mobilidade e assistirá aulas de seu curso no campus de Cachoeira da UFRV (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), com pleno reconhecimento da Unipampa. Caso não queira mais voltar a Jaguarão, fará uma prova de transferência para se tornar aluno regular da instituição baiana no segundo semestre.

Apesar de tudo, Helder não acusa o Estado do Rio Grande do Sul de ser racista. O sociólogo e professor da Unicamp, Carlos Alberto Doria, que recentemente publicou o ensaio “Por que não somos racistas”, também defende a ideia de que juridicamente o Brasil não é racista. “No Brasil, o racismo é quase crime de opinião. O Estado não é racista. Acredito que este seja um comportamento discriminatório geral, não um racismo histórico. Claro que no Sul, onde há uma identificação mitológica com os europeus, devido à colonização, isso se manifesta mais. Só que você anda pelo interior do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e vê que tem muita miséria. Tem colônias em que os camponeses só falam alemão, não falam português. O que há de desenvolvimento social nisso?”

A reitora da Unipampa também admite a existência de sentimentos racistas na região, embora não de forma generalizada, pelo fato de a universidade estar promovendo a diversidade cultural. “Uma parcela da sociedade está satisfeita. Outra não está.”

A que não está, segundo relatos do coronel Flávio da Silva Lopes, do Comando Regional de Patrulhamento Ostensivo Sul, são alguns produtores rurais insatisfeitos com a presença de 24 assentamentos do Movimento Sem Terra (MST) que a BM ajuda a proteger. Ele acredita que as cartas anônimas e o caso Helder foram usados oportunamente com o objetivo de desestruturar o responsável pela patrulha dos assentamentos. Em uma das cartas recebidas por Helder, há acusações de que os policiais envolvidos no caso do estudante também coordenavam um esquema de segurança privada na região. O caso está sendo investigado.

Já os policiais que agrediram Helder foram afastados das ruas por injúria, abuso de autoridade e lesão corporal. Por medida cautelar, seguirão realizando trabalhos administrativos. “Durante a investigação, constatou-se que houve abuso e os policiais foram punidos. O Helder está correto. Se sentiu ofendido e foi reclamar”, diz o coronel Lopes.
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Um comentário:

  1. Se somos racistas ou nao me parece irrelevante em certas situacoes. Sou branco de classe media e uma vez estava esperando um onibus fretado que me levaria ao trabalho junto com varios amigos tambem brancos e classe media. Algumas pessoas (colegas brancos) que estavam proximos a porta de um banco foram destratadas por um policial (branco) que fazia a escolta de um carro forte. Com certeza nao foi racismo mas foi agressiva a atitude. Apesar de toda a indignacao nada fizemos? Branquelos covardes? Nao sei. Eu diria que a sociedade nao é e nunca sera como imaginamos. Penso nessas horas na relacao custo/beneficio. O que ganhariamos todos (aquelas pessoas e os demais) tentando questionar o individuo ou levando o caso à ultimas consequencias? Tenho muita simpatia por pessoas como Helder que com sacrificio conseguem superar dificuldades, mas confesso que preferia sabe-lo na Universidade realizando seus sonhos a sabe-lo alvo de todas essas humilhacoes. As vezes ha mais sabedoria em calar do que em falar.

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