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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Notícia interessante: Gasto federal em políticas sociais cresceu 146% em 15 anos, diz Ipea

Vamos analisar com cuidado a notícia abaixo, divulgada pela Folha de São Paulo, ao apresentar um estudo do Ipea:


08/07/2011 - 12h19 - Folha de São Paulo

Os gastos do governo federal em políticas sociais passaram de R$ 219,7 bilhões em 1995 para R$ 541,3 bilhões em 2009, um aumento de 146%, segundo estudo divulgado nesta sexta-feira pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Os dados mostram ainda que, em 1995, os gastos sociais federais representavam 11,24% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.

Em 2009, o percentual chegou a 15,8%, o maior patamar verificado nos 15 anos analisados.

De acordo com o Ipea, essa trajetória de crescimento, embora permanente, não foi homogênea. "Há momentos mais lentos, como 2002/2003, e outros mais velozes, como 1996/1997 e 2006/2007", diz o relatório.
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Comentários:

Comparação entre os gastos em 1995, R$ 219,7 bilhões e em 2009, R$ 541,3. Então ocorreu um aumento de 146%. Certo? (acredito que sejam 246%... e em termos do PIB 140,6%.)

Mas isto em números absolutos, como apresentado acima. No entanto este tipo de comparação engana.

Será que R$ 1,00 em 1995 equivale a R$ 1,00 em 2009? Ou seja, o que você comprava com R$ 1,00 em 1995, você conseguia comprar com R$ 1,00 em 2009? Entenderam onde queremos chegar?

Em valores absolutos, e com inflação por exemplo, os valores sempre aumentam com o passar do tempo, o que não necessariamente significa que se está fazendo mais.

O que temos que prestar mais atenção no estudo é, por exemplo, a comparação em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) de cada época. Neste caso a comparação fica algo plausível, embora deve-se ter o cuidado em analisar as condições macroeconômicas de cada época.

Deste modo, pelo estudo, os gastos sociais federais em 1995 representavam 11,24% do PIB, e em 2009 15,8%.

Daqui podemos extrair alguma informação. Isto significa que uma variação de 11,24% para 15,8% representa um aumento de 40,57% além dos 11,24% já gastos em 1995. Como o primeiro ano da análise começa em 1995, parte deste aumento ocorreu no governo FHC e parte no governo Lula. Ou seja, nem todo este crescimento ocorreu no governo Lula.

Vemos assim, os programas sociais iniciados no governo Itamar, outros iniciados e ampliados no governo FHC,  redesenhados e consolidados no governo Lula, representam uma conquista social brasileira que avança ao longo destes governos e foi viabilizada pela estabilização econômica do país, e pela mobilização da sociedade.

Mas, por que as pessoas têm a sensação de que o governo Lula fez muitíssimo mais do que o governo de FHC?

Primeiro porque as propagandas ressaltam isso.

Segundo, porque a estabilização econômica foi um esforço enorme, gasta tempo e dinheiro. As crises mundiais podem também consumir recursos, reservas internacionais, etc.

Terceiro, porque com o passar do tempo e em uma melhor realidade econômica, com valorização do salário mínimo, aumento do poder aquisitivo, naturalmente pode-se fazer cada vez mais.

Com "a casa arrumada", e com o aumento do PIB, cada porcentagem do PIB aplicado em programas sociais tem um efeito maior do que em anos anteriores. Assim, se o governo Lula aplicasse tanto quando o governo FHC, naturalmente atingiria mais pessoas, porque o PIB do país aumentou.

Como foi aplicado ao longo do tempo cada vez mais (nos dois governos), o crescimento nos investimentos sociais atingem cada vez mais pessoas.

Os governos Itamar-FHC tiveram que gastar tempo para barrar a hiperinflação e a perda de poder aquisitivo. Veja o salário mínimo, em 1995 detinha apenas 20% do poder aquisitivo em relação ao salário em 1940 (ano em que foi instituído). Coletei uns dados do Dieese e fiz o gráfico abaixo para melhor ilustrar isso:


Veja a tendência de queda desde a década de 60 (em função de acontecimentos antes e depois da década de 60), em função do endividamento para grandes obras do Brasil, a construção de Brasília, a crise do petróleo na década de 70, etc.

As pessoas podem não achar isso grande coisa, mas barrar a queda de poder aquisitivo é um esforço muito grande, e num país continental, qualquer reforma leva muito tempo. E a pressão é grande. 

Veja por exemplo. Durante os tempos de hiperinflação, existiam instituições financeiras especializadas em ganhar dinheiro com a desestabilização da economia. Uma vez estabilizada, muitas destas instituições faliram. Quantas pessoas perderam o emprego e culparam o Governo? Quantos empresários devem ter pressionado o Governo? É difícil lidar com estas coisas.

Pelo gráfico acima, vemos que a partir de 1995 a coisa começou a melhorar. Se mantidas as mesmas condições, a tendência da curva é sempre crescer. É isso que fez o governo Lula na área econômica, seguindo as mesmas diretrizes do governo anterior (lembram da "carta aos brasileiros?"). E será assim se o governo Dilma mantiver as condições e continuarmos a observar o "natural" crescimento da curva, isto é, do poder aquisitivo do salário mínimo.

Em 15 anos (1995 a 2010) o salário mínimo saltou de 20% para 40% do poder de compra em relação a 1940 (100%, base da comparação). Veja bem, foram 15 anos para uma pequena melhora!

As pessoas precisam entender que mudanças num país continental são lentas. E mais, foram décadas para o salário perder valor, é normal levar décadas para recuperar este valor.

É "natural", ou seja, somos otimistas, esperar que daqui 15 anos este poder aquisitivo esteja em 60% ou 70% do valor de 1940.

Veja esta tendência otimista com mais números. Agora uma comparação entre o "salário mínimo nominal" (o que o trabalhador recebe) e o "salário mínimo essencial" (o valor que deveria ter em relação ao previsto na Constituição, desde 1940). Com dados do Dieese:

Evolução em 15 anos Março de 1995 Março de 2011

SM essencial

SM nominal


R$ 739,24

R$ 70,00


R$ 2.247,94

R$ 545,00

Razão Essencial / Nominal: ~ 10 Essencial / Nominal: ~ 4
(Quanto mais próxima de 1 é a razão, melhor)


Em 1995 com 1 salário mínimo era possível comprar 1 cesta básica, e em 2010 era possível adquirir 2 cestas básicas. A razão entre o salário essencial e nominal caiu de 10 para 4 em mais ou menos 15 anos (16 para ser exato). O ideal é que esta razão seja igual a "1".

Portanto, é "natural" esperar que nos próximos 15 anos a razão entre o essencial e nominal caia para 1,5. Ou seja, o salário mínimo terá quase o valor que deveria ter em relação ao que é previsto na Constituição.

>> Podemos pensar que em 20 anos o salário mínimo alcance o valor essencial (razão igual a 1). Será uma grande conquista para os brasileiros.

O crescimento do salário deve ser lento e gradativo, para não gerar inflação alta. Não se pode aumentar o valor do salário de maneira irresponsável.

Mas, nada disso será possível sem expandir a matriz energética do país. Em outras palavras, isto significa  novas usinas de energia. Sem elas, não há como sustentar as indústrias.

E você, como a grande maioria, quer geladeira, máquina de lavar roupas, TV, celular, carro, móveis, casa/apartamento, etc. Sem energia não há indústria. Sem indústria não há expansão dos empregos e bens de consumo.

As energia alternativas: solar, eólica, etc, não dão conta do consumo das indústrias. Atualmente restam apenas as seguintes fontes viáveis em termos energéticos: hidrelétrica, nuclear e termoelétrica.

Não gosta de nenhuma delas? Então pare de consumir o que você diariamente consome (água encanada, luz, alimentos, internet, celular, andar de carro/ônibus, não compre bicicleta, etc) e aprenda a viver como os índios, sem alterar a natureza. Se não conseguir, então pare de reclamar da construção de novas usinas.

Lembre-se que as melhorias são lentas, levam décadas, mas estão ocorrendo.

E viva o Brasil!

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